As seis histórias que compõem este "Diário da criação do mundo" têm em comum o sabor de uma prosa que se lê com um gosto especial: como naquelas canções dos grandes compositores cheias de riquezas harmônicas mas cujas melodias soam simples e ficam para sempre na memória , a escrita de Luís André Nepomuceno conjuga as riquezas de ritmo, vocabulário e erudição a uma fluência que nos seduz desde as primeiras linhas. É quase como se estivéssemos ouvindo o relato diretamente, numa conversa íntima, daquelas que nos deixam cada vez mais ansiosos por saber o final da história. E não faltam mistérios e surpresas, em cada uma delas. Seja no legado mais do que literário deixado nos cadernos de Téo depois de um atropelamento; na tripla graça infantil das meninas de Brusque, em suas peculiaridades e semelhanças; nos trâmites, disfarces e papelórios que envolvem uma adoção, no conto que dá título ao livro; nas tramas de um papel shakespeariano secundário num teatro do interior; na reconstrução da vida de um tio idoso; ou no tom epistolar de uma ironia quase machadiana que responde a um convite de casamento na Carta sobre a filosofia das dívidas".