De todas as noções e conceitos freudianos, um correu as ruas e se tornou sinônimo da psicanálise: o complexo de Édipo que já fora imaginado por Woody Allen com a mãe pairando no céu de Nova lorque. Esta publicação convoca os analistas a escrever sobre um tema muito explorado, assumindo o risco de dizê-lo de novo, mas de um outro modo. Ao definir o Édipo como complexo, Freud extrai de Sófocles o sentido trágico da existência humana, na encruzilhada com o pai e o sexo, para fundar no inconsciente a determinação dos atos e do destino do sujeito. Lacan denuncia a ideologia edipiana que perpassa a literatura da psicanálise, imprimindo um notável infantilismo à prática; ideologia que se sustenta no modelo da família moderna comovido pelos avanços da ciência e da manipulação tecnológica da reprodução humana. Teria ainda o Édipo no momento atual de nossa civilização uma função de verdade? Os trabalhos desta publicação não pretendem 'salvar' o Édipo, e sim, saber algo mais sobre as conseqüências psíquicas de seu naufrágio; é do falo, e seu correlato, a castração, que o sujeito se autoriza na sua posição sexuada. Atravessar a crise edipiana, efeito do encontro com a interdição do incesto, não se produz sem deixar um resto estranho e persistente: o sintoma. Localizar o sintoma e escrevê-lo de outro modo é o que o Édipo ocasiona na prática da psicanálise. A possibilidade de um novo enodamento permite dizer com Lacan que o Édipo não é tão complexo.