Os três ensaios que o leitor tem em mãos são perspectivas em torno de uma questão central: a distinção entre o individual e o social. Questão que se modela e se modifica segundo os registros próprios a cada uma das abordagens oferecidas pelo autor. A reflexão a respeito da memória, aprofundando os passos da magnífica obra de Ecléa Bosi, coloca em jogo a dimensão social da verdade como ficção fundadora do laço comunitário. O que se evidencia com isso é a fragilidade da distinção entre memória e delírio, ponto de partida para o desdobramento dos dois textos seguintes. Pensar a memória como presença viva do esquecimento, traços apagados do vivido cujos rastros podem ser reconstituídos de modo singular a cada narrativa, quando o testemunho social é a única garantia da verdade individual, leva o autor a indagar a dimensão performativa do ato de fala. Aqui se evidencia o solo clínico em que se assentam os ensaios: a potência de transformação da realidade através da experiência com a fala. A indagação do ato performativo conduz o leitor à encruzilhada em que se prova a correspondência lógica entre lei, culpa e desejo, que vem a esclarecer a homologia de base entre o individual e o social. Indagar-se com relação ao sentido do ato individual é assumir-se culpado de partida diante da lei que constitui o laço social, ao qual se endereça a suposição de saber a cada vez que um sujeito se inscreve pela via do desejo. Assim, aceitar a dimensão arbitrária da lei é submeter-se à patologia social que culpa de modo indistinto a todos os inocentes. Aqui há uma completa inversão do sentido da loucura: não mais o que isola o sujeito do social, mas o que o leva a integrar-se inequivocamente a ele.