Raimundo Gadelha é inventivo poeta de tankas, esta minuciosa arte da poesia japonesa que significa poema curto, pai do tradicional haikai, formado por duas estrofes de 5-7-5 sílabas - ou primeiro verso - e de duas estrofes de 7-7 sílabas - ou último verso. Nesta obra, ricamente ilustrada por Sérgio Gomes e com versões dos poemas em inglês e japonês, o autor dá toques brasileiros ao estilo (O sertão chora / a morte do vaqueiro / Corpo velado, / no céu a alma aboia / um rebanho de nuvens.) mas apresenta também, em alguns momentos, o espírito japonês na sua forma mais pura (Dentes a menos, / no tempo mastigados... / O branco se foi / A leve brisa espalha / aroma de hortelã.). Com extrema sensibilidade, o autor cumpre o objetivo de um bom tankaísta: extrair da realidade, da emoção - que é o choque do eu com o mundo exterior - aquilo que resume tudo, que sintetiza sua experiência.