Qual seria, pois, o milagre desse objeto, nascido há mais de dois milênios, eminentemente moderno por sua forma cúbica, matemática, industrial muito antes de o ser, que triunfou do rolo até se tornar o "tijolo elementar" do pensamento ocidental? Contrariamente ao saber digital, o livro, nascido da dobra, fecha-se sobre si mesmo, solidário de sua mensagem. Seu espaço é concebido para produzir uma autoridade, ou mesmo uma transcendência. Confere ao conteúdo a forma de uma verdade e a credita ao autor. Para compreender o poder fenomenal dessa construção, Michel Melot investigou sua topografia, sua arquitetura. Desceu até sua anatomia profunda, percorreu suas dobras e suas costuras, suas fibras físicas e simbólicas. Interrogou suas relações estranhas com as três religiões chamadas "do Livro", com o profano, com o comércio, com o político, com a liberdade de pensar, de sonhar, de desejar.