Os trabalhos analíticos e interpretativos de fôlego sobre poesia contemporânea são mais ou menos escassos. As dificuldades que justificam essa circunstância são diversas; mas talvez a maior delas seja, num país continental como o Brasil, a reunião dos muitos poetas e livros disponíveis num período recente, advindos de regiões distantes. Outra dificuldade, certamente de natureza mais literária, é a relação algo demorada ou emperrada dessa poesia com o cânone, aí incluídas não apenas a tradição qualificada de textos, mas também a crítica prestigiosa e as instâncias sagradoras, especialmente a universidade e o aparelho escolar em geral. E, atualmente, com a deplorável irrelevância das notícia e crítica jornalísticas, o poeta e seu livro de poesia contemporânea tendem a fenecer na praia... ou no gueto. O livro que o leitor tem em mãos atualiza com largo fôlego essas inúmeras e variadas questões e constitui um esforço muito meritório e abrangente de estudar, analisar e interpretar as diferentes veredas da nossa poesia contemporânea. Se ela vale em si mesma, como se relaciona com as várias tradições da poesia brasileira, e o que há nela de vivo, relevante e problemático, mais ou menos nos últimos 30 anos.