Pergunte a uma criança o que é um mágico e ela provavelmente dirá que é alguém que sabe fazer coisas inexplicáveis; pergunte a um adolescente e ele dirá que é alguém que sabe fazer truques. Em O mágico de verdade, o escritor, ensaísta e professor universitário Gustavo Bernardo "brinca" com o fascinante conceito de ilusionismo para questionar a realidade que vivemos hoje, levando reflexões aprofundadas para o público jovem através de uma narrativa ficcional. O livro de Gustavo Bernardo, todo em diálogos, reproduz um programa de auditório semanal em que a platéia e os telespectadores são desafiados a descobrir os "truques" de um mágico em troca de um prêmio de um milhão de reais. Um apresentador falastrão conduz a narrativa e arrasta o leitor-telespectador de um bloco a outro do programa, sem perder o fôlego. Logo de início, percebe-se que o escritor faz uma crítica à sociedade do espetáculo e ao automatismo do pensamento, ou mesmo à ausência dele, no mundo atual. A tensão aumenta a cada domingo. A cada novo programa, o público se surpreende com uma mágica mais inacreditável que a outra. Audiência recorde, anúncios milionários, contratos com redes de televisão do exterior. O show é um sucesso. O misterioso mágico de verdade consegue até fazer a estátua do Corcovado se transformar num Cristo Redentor sentado à maneira do famoso O pensador, de Auguste Rodin. Porém, as coisas começam a sair do controle - e os patrocinadores ficam assustados -, já que o tal mágico desafia bem mais do que a simples curiosidade da platéia em relação a seus feitos extraordinários. Por trás de todas as suas mágicas incríveis há sempre uma reflexão que se impõe aos participantes do show e à realidade tal qual a conhecemos. Ao contrário do ilusionismo divertido dos mágicos comuns, as realizações do mágico de verdade incomodam. Elas disseminam a dúvida, o questionamento, a incerteza. Elas são, enfim, uma "alfinetada" na consciência crítica daqueles personagens e, conseqüentemente, dos leitores.