O autor das 48 crônicas reunidas neste livro entregou um almofariz de pedra para Deméter, a deusa da terra cultivada, da fertilidade dos campos, dos grãos que saciam, como símbolo da inescapável rotina da alimentação, que nos acompanha desde a origem, desde os tempos da caça ao auroque e, por tabela, da luta pelo tutano de seus ossos. Início de uma linha que, não sem sobressaltos, chegou também ao conforto do ossobuco embalado a fino vinho Barolo. Fome e sede primordiais, como escreveu o escritor grego Nikos Kazantzákis, continuarão a nos atribular enquanto vivermos, destino inexorável. O autor de O Almofariz de Deméter trata justamente dessa tarefa de comer - e de sobreviver -, em vários tempos históricos e em uma variedade de espaços geográficos, iluminando especialmente momentos nos quais a cozinha e a mesa são territórios de prazer e de invenção de afetos. Não há exagero em dizer que o autor cria verdadeiras epifanias enogastronômicas.