A felicidade não chega automaticamente; ela não é uma graça que a boa sorte pode derramar sobre nós e que uma virada do destino pode nos tomar. Ela depende unicamente de nós. Não nos tornamos felizes do dia para a noite, mas à custa de um trabalho paciente, realizado dia após dia. A felicidade se constrói, o que exige tempo e esforço. Para nos tornarmos felizes, é a nós mesmos que temos que saber mudar” dizem Luca e Francesco Cavalli-Sforza nas páginas de abertura do livro Felicidade. E aí resumem perfeitamente esta obra. Matthieu Ricard, que se tornou uma celebridade com o sucesso mundial do diálogo com seu pai, O monge e o filósofo, realiza novamente aquela ponte perfeita entre o budismo - que pratica intensamente há mais de trinta e cinco anos - e a mentalidade ocidental - que também entende perfeitamente, visto ter sido um importante pesquisador de biologia celular. Passo a passo, ele explica como nossas sociedades ocidentais em geral encaram as emoções negativas, que geram tanto mal estar - ódio, raiva, inveja, ciúme - e de que forma treinar a mente para neutralizá-las. Melhor ainda, de que forma praticar a meditação e a postura mental para sentir amor por todos em volta e um contentamento sereno permeando todos os momentos da vida. A proposta, basicamente, é a de que a mente pode ser treinada. Aliás, que ela já é treinada, o que nas culturas ocidentais se dá pela mídia, a literatura e as atitudes prevalentes nos meios que freqüentamos. O truque, então, é o de oferecer um novo treinamento à nossa mente, para que ela gere emoções mais pacíficas e benéficas para nós. Matthieu é muito inteligente e já coloca aqueles argumentos que costumam ser levantados pelas pessoas que resistem suas propostas, como "tudo isso é muito inspirador, mas que benefício pode trazer a mim, que tenho uma família e um emprego e passo a maior parte do tempo em circunstâncias bem diferentes das de eremitas e sábios?" Em resposta a eles, não perde o pé da praticidade e propõe exercícios e atitudes possíveis de encaixar no cotidiano de seres urbanos e ocupados, sempre explicando cada prática à luz do que a ciência ocidental já sabe e pesquisa sobre o cérebro.