Quando fala de corpo como grande razão Nietzsche está querendo mostrar que corpo significa afecção, percepção, e que esta grande razão, esta afecção que é corpo, é poder de síntese e compactação. Mas não do intelecto ou da parte inteligível da alma, como se queira chamar. É poder de síntese como irrupção originária, através da qual vida, enquanto poder incontrolável, inesperado, transcendente, brota súbita e gratuitamente compactada em uma perspectiva, em um modo particular de ser, de aparecer. Por outro lado, a razão em seu sentido tradicional, a partir do qual ela é vista apenas como faculdade inteligível, no sentido de razão calculadora, de faculdade que esquematiza e ordena o real segundo conceitos e relações lógico-formais, é compreendida por ele como pequena razão. Pequena porque compreende o real como oposição entre um estrato inteligível e outro sensível, separando-o assim em alma e corpo, psíquico e físico, espírito e matéria, sujeito e objeto, o que caracteriza o modo próprio de pensar platônico, cristão, moderno, em suma, metafísico, ocidental.