Contar histórias, por mais terríveis que sejam, é permitir a convivência de alguma luz com a vasta região das trevas interiores. É uma tentativa constante de simbolização, de comunicação, e também luta infatigável pela vida. O personagem deste livro foi preso sem motivo aparente. Parece, entretanto, conhecer a falta de liberdade, o castigo e a tortura. Enquanto tenta, pelo pensamento, construir algum antecedente, alguma justificativa para a violência, começa a imaginar as histórias que lhe permitirão tranqüilizar-se, sentir-se agente e tornar-se senhor absoluto do lugar. Do breviário Karmenotti sobre suplícios, tormentos, torturas e outras dores, de José Eduardo Alcázar, é composto dessas diversas histórias que o personagem inventa para escapar ao medo. Misteriosas e fantásticas, mantêm, no entanto, a unidade por uma narrativa fluente e imaginosa.