No filme de Sydney Pollack, Jane Fonda e Michael Sarrazin (ao centro) dançam durante 879 horas, com raros intervalos Horace McCoy (1897-1955) faz parte da safra de escritores americanos durões dos anos 30. Como vários de seus colegas, foi cooptado pela indústria do cinema de Hollywood, onde viveu, como eles, momentos infelizes. Os livros de McCoy foram escritos com a urgência da era da Depressão e dos gângsteres: são velozes, ácidos, temperados com palavrões, perfeitos para uma adaptação cinematográfica. Poucos romances daquele período, no entanto, conseguiram ser tão realistas e pontuais quanto A noite dos desesperados, de 1935. O autor situou a ação numa maratona de dança, então muito comum. A ela não faltam brigas, assassinatos, diálogos ásperos. Mas são elementos que compõem a atmosfera e não a essência da trama, centrada num casal de concorrentes criado por conveniência. O protagonista não é nenhum valentão, ainda que seja acusado de assassinato logo nas primeiras linhas. Mas a violência corre nas entrelinhas. Publicada no Brasil em 1947, pela Livraria do Globo em tradução de Érico Veríssimo, a obra mais conhecida de McCoy ganha nova tradução, dessa vez assinada por Renato Pompeu. O drama de Gloria e Robert, um par enlaçado para um balé incessante em uma competição trágica durante a Grande Depressão americana, ainda permanece como uma metáfora poderosa em nossos dias. A mídia continua a nos oferecer espetáculos nos quais, por vezes, perdemos a dimensão do humano e avançamos até o limite de nossos valores mais essenciais.