Poucos dias antes de que o livro fosse entregado pra editora, eu liguei pro Richard e perguntei por que ele queria que eu escrevesse a orelha. Quando me convidou, ele fez menção ao meu trampo no jornal, disse que era político, mas depois que eu li Maratonistas do Quênia, fiquei me perguntando se cabia a uma mina branca arquitetar um textão político pra apresentar um apanhado de poemas que falam tanto de racismo. Ele me respondeu entre suas habituais pausas de cigarro: lembrou que a gente corre junto há mais de uma década; lembrou do dia que acordou cedo pra escrever um poema e eu falei que então era sério, ele era escritor mesmo; lembrou que volta e meia saía da minha casa achando que tinha que esquecer das próprias lutas pra lutar as minhas, mas depois entendia que tamo junto pra caralho. Faz tanto tempo que as nossas narrativas se cruzam que ficaram quase indissociáveis: a história de um também é um pouco a do outro. O nosso lance sempre foi sobre diálogo. Eu e o Richard nos (...)