O título deste livro, "O Que Parece É", não foi inventado por mim, nem tão-pouco foi retirado de um anúncio publicitário. Trata-se de uma frase de Salazar, um dos muitos aforismos que ele tanto gostava de integrar no seu discurso e que serviam de "slogans" com enorme eficácia propagandística, funcionando como mandamentos explícitos para orientar as diretrizes ideológicas do seu novo modelo político. (...) O objetivo científico deste livro consiste em compreender o discurso salazarista no que diz respeito aos meios de comunicação, os quais ele considerava como um veículo de transmissão da ideologia, essencial para doutrinar a sociedade. (...) Salazar acreditava que o controlo férreo da opinião pública portuguesa era a chave para fazer prevalecer os seus princípios políticos. Isso mesmo manifestou num dos seus discursos: "A verdade é que politicamente tudo o que parece é, quer dizer, as mentiras, as ficções, os receios, mesmo injustificados, criam estados de espírito que são realidades políticas: sobre elas, com elas e contra elas se tem de governar." Esta visão totalitária da sociedade portuguesa fez com que temesse o contágio ideológico através da Espanha democrática que nascera com a fundação da Segunda República, a 14 de Abril de 1931, um regime que poderia prejudicar o Estado Novo. A rebelião franquista de Julho de 1936 pareceu-lhe ser o melhor para Espanha e para Portugal. Por isso, era necessário prestar o maior auxílio propagandístico possível a Franco, de modo a difundir a verdade, a sua verdade.