A publicação deste volume de Textos Críticos, de Augusto Meyer, uma antologia muito generosa, vem repor em circulação um autor fundamental da nossa prosa esaística e mesmo da história da crítica literária moderna no Brasil. Sabendo jogar com equilíbrio entre a erudição de lastro germânico e a intuição de poeta, Meyer foi um mestre na arte da prosa em surdina: seus textos revelam sempre um amplo conhecimento da história literária que é fisgada na leitura criativa dos autores, obras e temas sobre os quais se debruça. Um dos traços mais cativantes do volume é, sem dúvida, o jeito à vontade com que se move entre os tópicos tradicionais de literatura e a literatura brasileira e regional. Sem desprezar o rigor das análises e o juízo nele fundado, a sua prosa nada tem de aborrecida: há sempre uma pitada de ironia que matiza a seriedade do erudito da Estilística, leitor de Leo Spitzer e Erich Auerbach, e o apaixonado pelos topoi, à moda de um Ernst Robert Curtius (cuja obra monumental, Literatura Européia e Idade Média Latina, foi ele quem fez traduzir e editar pelo INL em 1957, quando diretor da instituição). Neste volume, portanto, o leitor encontrará de tudo um pouco: desde o close reading do famoso poema de Rimbaud até as magistrais análises de Camões, passando pela prosa imaginativa com que é repensada a viagem de Ulisses ou em que se renovam os estudos sobre a literatura gaúcha, erudita ou popular.