Se bem guardem da produção de antes de 1990 os conteúdos paródicos que fizeram de Glauco Mattoso o melhor herdeiro de Bocage ou de Gregório de Matos, entre nós, os sonetos de CENTOPÉIA debocham de tudo, da seriedade e da falta dela, e implacáveis com a própria cegueira, num vezo satírico muitas vezes autodemolidor, se outros méritos não possuíssem, o teriam este -- o de constituir-se em autêntico "óvni" no panorama mais ou menos chapado da atual poesia brasileira. WILSON BUENO, O ESTADO DE S. PAULO. Despudor, sarcasmo e, o mais importante, culhões de observar e sublinhar o país que nos tornamos, com suas xoxotas embaladas a vácuo, fuzis de repetição e políticas de interesses escusos. O Brasil que Glauco passa a limpo é escatológico, injusto, perverso e autodestrutivo. Nada mais verdadeiro, para quem mantém um índice mínimo de abertura de olhos. FERNANDO BONASSI, FOLHA DE S. PAULO. Em três volumes, mais de 300 sonetos camonianos, perfeitos como técnica, transbordantes de idéias, nojentos como temática e assustadores pelas confissões, pura literatura, eu sei, ninguém é tão tarado, mas minuciosa, exagerada, buscando o fígado do leitor. Cada palavra de Glauco Mattoso é uma reverberação. Não há como ultrapassá-lo. MILLÔR FERNANDES, JORNAL DO BRASIL. Sansão fescenino, cego, de cabeça raspada, Glauco Mattoso não deixa pedra sobre pedra: demole o templo da poesia a fim de tecer-lhe o elogio. Esses sonetos, de versos heróicos (decassilábicos, camonianos), expressam grande desconforto, em relação à tradição. Tal desconforto, por sua vez, coloca a poesia em constante duelo consigo mesma. Ao parodiar a tradição, o autor não a exclui; ao invés, reelabora-lhe o legado, usa-a como matéria-prima, glorifica-a. NELSON DE OLIVEIRA, O GLOBO. Para um homem que se classifica de bruxo -- nos anos 70, leu Aleister Crowley, Helena Blavatsky e Krishnamurti --, o misticismo é cada vez mais uma experiência solitária. O isolamento fermenta a crença. Glauco debocha de profetas e religiões. Mas diz que a cegueira aumentou sua religiosidade. Deu-se conta de que muita coisa, aparentemente obrigatória no cotidiano de qualquer mortal, não o é. Foi uma descoberta solitária. EDUARDO NASI, ZERO HORA.