Um olhar transparente e risonho, mãos ágeisextraindo beleza e rítimo do acordeom, um coração incondicionalmente terno e solidário: estes são traços marcantes dos meus primeiros encontros com Francisco Soriano. Quem poderia advinhar que, por trás deles, se escondesse uma história de tremendo sofrimento físico, mental e psiquico, infligido pelos carrascos da ditadura militar que oprimiu o Brasil durante 21 anos do século 20, em nome dos interesses do grande capital transacional, com a cumplicidade das elites brasileiras e das instituições financeiras multilaterais? Soriano escreveu A grande partida: Anos de chumbo com o cérebro e o coração. Ele não se limita a narração dos fatos que vivenciou, mas explora com a maestria de um pensador crítico e compassivo os meandros dos sentimentos dele próprio e daqueles que fizeram e fazem parte da sua teia de relações. Ele compartilha conosco, seus leitores e leitoras, ricos detalhes da sua tragetória pessoal, trazendo-nos para a intimidadede valores mais profundos, desafios mais dramáticos e sublimesesperanças. Outro valor desta preciosa narrar]tiva é o de ilustrar a realidade da opressão da ditadura militar brasileira a partr de uma história cujo epílogo é a vitória da resistência de Soriano a todos os horrores e a reafirmação da Vida e da sua Esperança. Pois só alguém, que construiu em si um espírito forte, compassivo e terno, teria condições de sair desse calvário cheio de disposiçãopara continuar se desenvolvendo e, ao mesmo tempo, continuar atuando na luta pela emancipação do povo e da Nação Brasileira.