"Os personagens dessas "narrações" se encontram empenhados num gesto de recusa. Uma recusa que não implica a negação decidida de algo; antes se expressa através de uma "forma de resvalar o mundo, mesmo dentro dele". São figuras empurradas por uma "marginalização intencional", que se põem à parte do "mundo estável" ou, como o Soren de Mocó (2001), recusam o "mundo do valor". Grande parte deste :Espelho Esquerdo se volta a uma franja inassimilável, prostitutas, michês, traficantes, moradores de rua, e se mobiliza para que "se exiba ao mundo sua recusa a ele".Entre a ausência de contato do início e o contágio do fim, o caminho tortuoso de :Espelho Esquerdo expõe como que o fascínio da transgressão, através de um gesto narrativo disposto a se embrenhar pelas margens e limites – da integração social, dos valores, da sexualidade.Isso posto, digamos que :Espelho Esquerdo não é um livro fácil. Tem algo de hermético na proliferação de alguns símbolos, a começar pelo título. Exige, portanto, paciência e empenho na decifração. Como nesta afirmação recente do Autor: "o mundo e sua recusa são manifestados por narrações em sequência para afluírem na magia e na orgia que aos poucos se formavam postos de viés mas tão às claras quanto um espelho é confiado por quem se põe a sua esquerda". " -Fernando Vidal Filho