A produção filosófica no Brasil não tem se caracterizado, no curso de sua história, por um número significativo de trabalhos que possam ser considerados suficientemente autônomos e originais em relação a modelos e temas estabelecidos no exterior. Uma dessas exceções é a indagação que Evaldo Coutinho desenvolveu numa obra que compreende, até agora, quase dez volumes, e que vai do Cinema e da Arquitetura à Estética e à Filosofia da Existência. Neste conjunto, ocupa lugar especial a série compreendida por A Visão Existenciadora (1978), O Convívio Alegórico (1979), Ser e Estar em Nós (1980), A Subordinação ao Nosso Existir (1981) e A Testemunha Participante (1983), ora rematada em A Artisticidade do Ser, onde o autor expande a sua reflexão acerca da ordem fisionômica exposta ou sugerida nos ensaios acima. Neste livro, o pensador brasileiro ergue uma construção mental onde a coerência e a harmonia das idéias legitimam uma criação verdadeiramente filosófica, no plano da pura cosmogonia. A consciência individual recebe aí uma valorização metafísica não encontrada em quaisquer dos sistemas filosóficos de hoje e do passado. Desenvolvendo esta sua concepção, Evaldo Coutinho revela a modalidade como o universo se lhe apresenta: mediante alegorias e símbolos que informam sobre a identidade entre a extinção da consciência e a morte do Ser, assim configurando-se a ontológica artisticidade.