Dentro da noite é o sétimo livro publicado por João do Rio e tem características que diferenciam dos precedentes. É a maior coleção de taras e esquisitices até então publicada na literatura brasileira. Oito histórias tratam de diversas formas da deformação sensorial (hiperestesia): sonoras, olfativas, sadomasoquistas - incluindo abuso de drogas, sexo e cleptomania. Cinco abordam diretamente a busca da satisfação sexual da elite na classe baixa, sendo que três ameaçam com o perigo das doenças contagiosas oriundo de tal mistura. Um clima opressivo de pavor cerca o sensualismo, expresso nas descrições de cores e cheiros, de personagens tão próprios do estilo Decadentista. Poucas obras se enquadram tão bem nos conceitos expressos por Susan Sontag no ensaio Sobre o camp, onde analisa o art-nouveau como uma forma de expressão homossexual. Oscar Wilde, num trecho do De profundis, diz que o paradoxo está para a gramática assim como o homossexualismo para o sexo. Creio ser esta uma boa chave para decifrar o estilo vertiginoso, paradoxal, bizarro e por vezes quase repulsivo do nosso autor. Essa eclética reunião de estilos, linguagens e filosofias - que em outros autores revelaria somente um ecletismo superficial - é a própria essência do livro de João do Rio e sua época, cheia de antigas novidades e imortais velharias. Para um tempo de transição, um estilo e uma linguagem de transição. Mas de primeira categoria, como o leitor pode confirmar, virando a próxima página e mergulhando no mundo faiscante de Dentro da noite, um livro para gourmets literários. (JoãoCarlos Rodrigues)