A tarefa de ensinar pode ser caracterizada como um processo quase artesanal se considerarmos que ela sempre é marcada por vicissitudes. Em conseqüência, o tão almejado e perseguido controle que buscamos sobre os processos de ensino e de aprendizagem coloca-se como meta muito difícil de ser alcançada e, muitas vezes, impossível. Mas até que ponto o pleno controle na condução do ensino garante o sucesso na sustentação da aprendizagem e dá satisfação ao professor? Esta obra conta a história de uma professora que ao pesquisar sua própria prática se surpreendeu consigo mesma ao perceber que a condução de seu ensino esteve marcada por um movimento controverso. Ao mesmo tempo em que mantinha um ensino centrado nela própria, muito se esforçando para não se desviar de seu planejamento, aceitava sugestões de seus alunos, introduzindo novidades em seus planos de aula. Apoiada no conceito de violência primária de Piera Aulagnier essa controvérsia pôde ser compreendida e, ao mesmo tempo, dar significado ao sucesso obtido pela professora com a experiência didática que conduziu junto a alunos dos anos iniciais do ensino fundamental no âmbito da alfabetização científica. Com base neste conceito foi possível conceber o movimento docente com base numa intervenção análoga a que se faz para introduzir um sujeito na cultura de uma sociedade e, ao mesmo tempo, suportar a originalidade e a diferença na enunciação desse sujeito. Configura-se, assim, um interjogo complexo, de ordem subjetiva, no qual ao mesmo tempo em que as regras são dadas, cria-se as condições para questioná-las. A investigação sobre a própria prática, empreendida pela professora, fornece um resultado promissor para a área de formação de professores ao acenar para o fato de que, mesmo um professor que busca de forma insistente o controle sobre sua prática, pode não se sentir satisfeito, o que o faz, implicitamente, se arriscar a mudar os rumos do que lhe parecia um caminho seguro.