Talvez o melhor modo de introduzir este estudo seja tratar, antes, daquilo que ele não é. A música, enquanto fenômeno humano, pode ser descrita de muitos pontos de vista:(1) há descrições históricas e antropológicas, que cuidam dos muitos modos de se fazer música ou de valorizá-la com conotações sociais; (2) há descrições estéticas, responsáveis pela construção de escolas e estilos musicais; (3) há descrições éticas, que chegam a projetar na música valores ideológicos e, até mesmo, terapêuticos; (4) há, ainda, descrições a respeito da significação musical, que buscam determinar seus sentidos. Entre todas essas possibilidades, este trabalho não é uma história da música, pois enquanto descrição de mecanismos formais de uma linguagem humana, pretende-se uma abordagem não através do tempo, mas das propriedades musicais capazes de resistir à variações históricas e culturais; não se trata de valorizar determinadas estéticas com comentários apreciativos, muitas vezes de ordem bastante subjetiva, orientados por gostos pessoais – não se trata de fazer manifestações estéticas –; não faz parte deste trabalho projetar ideologias nas formas musicais, discutindo políticas, nem examinar os efeitos da música na percepção humana. Trata-se, no caso, de estudar a música do ponto de vista da significação, ou seja, do ponto de vista semiótico.