O autor encontra-se inserido na obra desde que a concebe (ou desde que ela o invade). É ela que o consome e arrasta no devir criador. Ao final, ela, a si mesma se apresenta ao outro: presentifica-se. Não como uma ideologia ou visão de mundo desse que fora, um dia, o autor. A obra é real, tem vontade própria. Minha escolha pelo "duplo" artaudiano explicita isso. Espelho é mais do que a imagem refletida de Édipo. Espelho é outro eu; maior do que aquele que se coloca diante dele (Ego/Édipo/Homem). Espelhos são terríveis. Não foi por acaso que tantos autores usaram-nos. Especialmente em contos de suspense (scary tales). Sendo assim, obra é real. É corpo! Todo o resto é palavra vazia, sobra, excesso e, portanto, desnecessário. Deixemos que a obra siga seu próprio percurso. Sua via é inalienável. No entanto, como apontaram os gregos, há que guardar a justa medida. Eis aí o que faz da arte a vida. Este é o segredo do grande artista. Deixar ser, um dar-se inteiro à ação disso que é criar.