Assustador e envolvente, Estação das Chuvas não perdoa nada nem a ninguém, e num ritmo por vezes alucinante, tão depressa nos mostra o lado lumininoso, de maravilhamento de Angola, como o seu lado sombrio e de horror. Implacável. José Eduardo Agualusa acaba de escrever um romance, Estação das Chuvas, que pode considerar-se, sem receio, a mais notável obra sobre a História Contemporânea de Angola. A personagem Lídia do Carmo Ferreira assistiu a tudo e sofreu, inclusive a cadeia. Não escandalizava que a consideremos uma das criações literárias mais comoventes da moderna literatura escrita em português. Não espanta também que haja pessoas que fizeram chegar ao autor a informação de que a haviam conhecido. Nada pode ser, para um escritor, mais elogioso do que este equívoco. Porque Lídia nunca existiu, mas existe como heterônimo de personalidades reais. Agualusa esta criando um universo ficcional autonômo. Isto é: Agualusa está tentando o que apenas grandes criadores - como Gabriel Garcia Marques ou Juan Carlos Onetti - ousaram: transportar gente através do espaço e do tempo.