A trajetória da poesia sobre o trabalho, entre 1922 e 1964 faz um percurso de gradativo envolvimento dos poetas. Nos anos 20, o poder constituído precisava que todos trabalhassem, afinal não há muito se saíra do regime escravocrata e trabalhar representava algo pejorativo. Nesse contexto da República do Café-com-leite Mário de Andrade construiu seu painel sobre a cidade de São Paulo e sua vida burguesa, onde o trabalho aparece como algo entranhado no cotidiano da cidade, porém sem nenhum destaque. Diferentemente ocorreu nos 15 anos do governo Vargas, pois este colocou o trabalho como enobrecedor, em contrapartida controlou os sindicatos. Drummond desenvolveu nessa época uma poesia marcadamente social, em que critica a maquinização do homem no trabalho burocrático das repartições e extenuante das fábricas, como se cada indivíduo fosse um pedaço de engrenagem numa estrutura fria e sem sentido. O Pós-Guerra veio marcado pelos movimentos sociais, pela redemocratização do país, pela liberdade sindical, mas também pelo desenvolvimentismo de Kubistchek. A poesia de Vinícius de Moraes descobre o operário e o vê adquirindo consciência, Mário Chamie ressalta o trabalho do campo, cuja organização foi influenciada pelos movimentos sociais da Igreja Católica e do comunismo, Cassiano Ricardo percebe os primórdios da era do computador e imagina a máquina substituindo o homem, e até Haroldo de Campos destaca a fragmentação do homem, como se triturado por esse novo tempo. Enfim, a obra mostra relações entre poesia e trabalho: esta, necessidade de sobrevivência num mundo de produção capitalista; aquela, emoção e reflexão sobre as condições da vida.