Criaturas que o mundo esqueceu” não se parece com nada que você tenha lido recentemente na literatura brasileira. São 11 contos independentes, mas que se interligam através de alguns personagens em comum, protagonistas aqui, coadjuvantes acolá. Narrativas amorais e homoeróticas ambientadas algumas décadas atrás num Rio de Janeiro já pra lá de decadente. Muita ironia. Temos um nobre francês, uma condessa italiana, um editor de livros, uma temida cronista social, uma cantora do rádio e vários travestis, veados e mariconas, malandros, garotos de programa, adolescentes zona sul e outros exemplares da fauna e da flora da falecida Cidade Maravilhosa. Todos promiscuamente frequentando os mesmos locais, sejam eles festas milionárias na orla de Copacabana, um bordel de homens em Xerém, as ruas e praias de Ipanema ou os cabarés do sempre misterioso Centro do Rio. Um estudante de arquitetura fóbico ganha uma viagem de intercâmbio para a China. Começa, assim, a angústia do protagonista que deseja partir para o outro lado do mundo ao mesmo tempo que não consegue atravessar uma rua sozinho. Não é para menos que a narrativa seja construída como se constrói um arranha-céu: aos poucos, começando com as bases, fazendo o espectador ansiar cada vez mais pelo resultado final. Apesar de nem sequer conhecermos seu nome, criamos intimidade com o personagem, um vínculo poderoso que gera empatia pela sua história, seus medos, suas decepções, seus sonhos. China de papel é um romance sensível, doloroso e essencial para compreender algumas das questões existenciais dos jovens, sem tratá-los com superficialidade e futilidade.