Os contos de Lucas Barroso mimetizam os sons de um universo assustadoramente semelhante ao nosso, que pulsa ininterrupto do lado de fora destas páginas, e onde a felicidade não passa de uma farsa, uma autoinvenção, que nos assombra justamente por sabermos de sua impossibilidade. Nascer, crescer, morrer, degenerar. A vida como um processo de espera onde pessoas são meras engrenagens em que executam funções nessa dantesca linha de montagem que é a existência, pedaços de carne argilosa, incrustada de ossos, fiações, buscando algo que nos faça ignorar os sentidos que criamos. Lacunas ruindo, subjugadas por pressões com as quais não sabem lidar. Convenções sociais cruéis, o doloroso jogo das expectativas impostas subjetivamente, da idealização versus realidade. Diante da impotência perante a vida, os vícios, seja o sexo, o álcool, a cocaína ou mesmo o que convencionamos chamar de amor, são apenas formas de silenciar a solidão, de abafar esse som ensurdecedor que o nada produz.