Ruanda pode até ser conhecida, ou apenas lembrada, pelo genocídio tutsi de 1994. Mas em Ejo e Lézardes, coletâneas de contos de Beata Umubyiei Mairesse, é na multiplicidade dos destinos, das falhas e feridas, mas também das cicatrizes, que se manifestam as narrativas de personagens que foram vítimas, mas que são, acima de tudo, sujeitos da sobrevivência. Sobre a estrutura craquelada de racismo e colonialismo que se vislumbra, entre outras coisas, na aparentemente cega resignação ruandesa ao catolicismo, erguem-se novas e diversas estratégias de superação de vida, onde mais forte é a cumplicidade, intimidade e respeito feminino e fraternal em que se reconhecem, no trauma e na trama, os viventes do exílio e da terra natal. Essas trajetórias se cruzam para constituir narrativas coletivas que ressignificam, ou não, o Ejo do ontem-amanhã, ou as fissuras pelas quais em Lézardes as personagens se encontram, entre os contos, na colina, na cidade, no lago ou no campo, em Kigali ou Butare [...]