No título deste livro de contos que o leitor tem em mãos, há pelo menos duas ironias. A primeira delas diz respeito ao bucolismo. O termo remete aos poetas árcades e, consequentemente, aos valores greco-latinos de locus amoenus e aurea mediocritas, ou seja: à singeleza de uma vida feliz no campo, homogeneamente harmônica, sem excessos ou ambições desestabilizantes. A segunda, aos “desatinos” que nomeiam a segunda parte do livro, palavra que sugere a perda do juízo, o destempero e até mesmo a loucura. Desatinado é o homem que abandonou ou foi abandonado pelo bom senso e, por isso, desviou-se do comportamento razoável dos seus semelhantes. É o trânsfuga, a nota dissonante, o ébrio entre os cristais.