Circuito fechado: quatro ensaios sobre o poder institucional, em continuidade à publicação das obras reunidas de Florestan Fernandes pela Globo Livros, coordenadas por Maria Arminda do Nascimento Arruda, reúne textos autônomos escritos entre 1966 e 1976, época de grandes transformações na vida do país e, diretamente, na do autor, afastado da USP pelo AI-5 em 1969 para se tornar professor na Universidade de Toronto e em seguida voltar ao Brasil na condição de exilado interno. Além de seus quatro ensaios-capítulos divididos em duas partes, o volume conta com prefácios do autor e da organizadora. O título do volume refere-se ao fechamento, naquele período, com a ditadura militar no país e o acirramento da Guerra Fria no exterior, das opções históricas (revolução ou reforma) que permitiriam a superação de uma sociedade historicamente dividida em classes não apenas antagônicas mas, também, afastadas social, política e economicamente em que a burguesia parasita um Estado fechado à maior parte da cidadania, e tudo leva à perpetuação da sociedade exclusora que emergiu de uma independência feita pelas elites escravistas coloniais, de uma libertação dos escravos que os lançou das senzalas às favelas e de uma república e uma industrialização que, mutatis mutandis, repetiram o processo da independência. Trata-se de um livro, não de um sociólogo socialista, nem de um socialista sociólogo, mas de um sociólogo e socialista. Ou seja, de um acadêmico que não perde o rigor em função da militância, e de um militante que não perde o compromisso em função do academicismo. Este equilíbrio, esta complementariedade é talvez a marca maior de Florestan Fernandes como autor e intelectual, que tanto o particulariza quanto o torna mais empolgante, e provavelmente mais atual, do que muitos de seus pares. Os títulos dos ensaios falam por si mesmos, e vão da retomada de um tema histórico fundamental (A sociedade escravista no Brasil) à reflexão sociológica diretamente a ele relacionada (25 anos depois: o negro na era atual), passando pela análise político-sociológica da intelectualidade em geral (A ditadura militar e os papéis políticos dos intelectuais na América Latina) e da universidade em particular (A Universidade em uma sociedade em desenvolvimento). E como o país não logrou desde então abrir o circuito de uma sociedade capitalista especialmente fechada à inclusão efetiva da maioria de seus cidadãos, estes ensaios infelizmente mantêm grande atualidade e não menor pertinência (incluindo o outra vez tão atual tema das raças).