Richard M. Morse não se encaixava bem na academia americana. Conforme observou Dain Borges em uma bela homenagem na Luso-Brazilian Review, a prosa de Morse impõe um ritmo de leitura cuja decifração paciente e reflexiva é desconhecida dos leitores de monografias acadêmicas. Tenho certeza de que Morse amou o humor seco dessas palavras. Ele era um escritor magistral que lançou um olhar crítico sobre a academia, vendo-a com humor e, às vezes, com raiva e dor. Morse, no entanto, sempre tirou inspiração de um poço inesgotável de empatia humana, que era sua mais importante fonte de percepções sobre as sociedades latino e anglo-americanas. Morse carregava sua vasta erudição com leveza, em parte, talvez, por entender que a sabedoria mais profunda é algo frágil e para a qual a aprendizagem vinda dos livros oferece apenas, e na melhor das hipóteses, acesso incerto. Quando Morse ratificou o maduro senso histórico do camponês analfabeto que disse aos pesquisadores norte-americanos, na década de 1960, que Pedro Álvares Cabral era o presidente do Brasil, isso não era afetação populista, mas a expressão de seus valores mais arraigados. Portanto, à importante pergunta de Dain Borges Existem proposições que possam ser codificadas como um morsismo?, eu responderia que sim, sabendo muito bem que as únicas proposições morsistas às quais Morse teria aderido sem reservas seriam: não codificar e, sua acompanhante, que é tanto apelo quanto aviso, não entender as pessoas rápido demais.