Este é o primeiro livro ficcional de Lúcia Araújo. Vejo nele, contudo, a mesma inteligência vivaz, a capacidade de fazer conexões e a extrema capacidade que a autora vem demonstrando em sua bem-sucedida carreira de jornalista. Pode ser lido como um saboroso depoimento sobre a cultura caiçara, palavra de origem tupi que, esclarece ela no livro, significa a mistura de índio com branco. Pode ser lido também como um retrato por vezes cruel, mas sempre muito bem-humorado do nosso embate interno entre a vergonha de um passado pobre e o desejo de ingressar num novo mundo. O tal cozido goiano que dá título ao livro na verdade alude à capacidade do brasileiro de fazer muito com pouco, de improvisar a partir da precariedade, da escassez. Pois penso que o mundo está precisando muito, hoje, dessa capacidade de invenção que tanto caracteriza o brasileiro. E um recado final: as receitas no final do livro são para valer.