"Hoje tem espetáculo?" Não tem não, senhor. A pergunta clássica do dono do circo quase não se ouve mais. O palhaço virou comediante de TV, o trapezista e o malabarista se transformaram em atletas olímpicos e o domador de animais virou funcionário do zoológico. Televisão, Internet, videogames e desenhos animados: tudo isso influenciou para que cada vez menos os pais levem as crianças ao circo. Como resultado, as poucas companhias que sobrevivem no Brasil têm apresentação restrita às grandes cidades. Uma ótima oportunidade para despertar o interesse da meninada pela arte mágica do circo é o lançamento da Editora Globo: QUINDIM NA CORDA BAMBA, quarto título da série "Aventuras no Sítio do Picapau Amarelo". Nesse livro, a turma criada pelo escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948) é transportada para o universo circense de diversas formas. Primeiro, Visconde fala da origem do circo, que remonta à China e à Grécia antigas - nesta, os espetáculos olímpicos traziam números circenses com equilibristas, malabaristas e cômicos. Até chegar ao formato atual, o circo passou por Roma e pelos grupos itinerantes do Renascimento. Em seguida, Emília explica as peculiaridades dos muitos artistas do picadeiro: palhaços, malabaristas, trapezistas, contorcionistas, mágicos, equilibristas, acrobatas e artistas aéreos. O passeio seguinte é um dos mais interessantes: a história do circo no Brasil, desde o seu primeiro registro, em 1830. A edição inclui ainda as biografias dos mais importantes palhaços brasileiros, inclusive com fotos de alguns deles - Arrelia, Piolim, Chicharrão e Carequinha. A segunda parte do livro traz uma peça protagonizada por Quindim no dia em que um circo chegou ao Sítio do Picapau Amarelo. Tudo parece festa antes do início do espetáculo, mas o desaparecimento do palhaço ameaça sua realização. Um mistério que se transforma num desafio para os netos de Dona Benta e para os espertos Visconde e Emília. O grupo só não pôde contar com a ajuda de Quindim, que se esconde ao saber da chegada do circo. Isso porque o rinoceronte havia fugido de uma companhia circense há muito tempo e temia voltar àquela vida itinerante. Será que ele consegue ficar longe de confusão? As "Aventuras no Sítio do Picapau Amarelo" são escritas por Conceição Fenille Molinaro a partir dos personagens de Lobato. Com finalidade paradidática e possibilidade de adoção até em salas de aula, os títulos são voltados para o múltiplo aprendizado da criança. A publicação estimula seus leitores a fabricar cenários e roupas e a representar peças de teatro - cada título traz moldes de máscaras e uma peça inédita para ser encenada em casa ou na escola. Na seção Hora de Brincar, Conceição ensina como aproveitar algumas sucatas para criar uma máscara do famoso palhaço Torresminho, do Gran Circo Parmegiano. Mostra também como criar malabares, aquelas garrafas coloridas plásticas que são usadas pelos malabaristas. Tudo com material reciclável. Essas brincadeiras funcionam como uma fonte de atividades extracurriculares para despertar a criatividade e ampliar os conhecimentos dos estudantes do ensino fundamental. Os textos são ágeis, objetivos, como se os heróis do Sítio falassem com o leitor. Há também as mensagens positivas que ajudam na formação moral das crianças. Como nos outros volumes da série, esta edição também traz um ensaio que remete Monteiro Lobato a algum tema. O assunto, desta vez, é a criança. O fascínio do escritor pela garotada estava relacionado principalmente a seu espírito irrequieto de lutar contra as injustiças. "Isso de endireitar a humanidade era algo que Lobato entendia muito bem, pois em diversas ocasiões ele tentou 'arrumar' o Brasil por meio de denúncias e da apresentação de soluções para os problemas que atrapalhavam o desenvolvimento do país", escreve Conceição. Decepcionado com o comportamento dos adultos, porém, ele percebeu que o desenvolvimento dos homens estava mesmo nas mãos da criançada: "Temos deveres para com o futuro. Já que não soubemos ou não pudemos consertar as coisas tortas herdadas, tenhamos ao menos a hombridade de não iludir nossos filhos".