O padre Antonio Vieira é das figuras mais importantes - e duradouras - da história do Brasil e de Portugal. Sua imaginação social e suas práticas religiosas, sociais e políticas são indispensáveis à compreensão do século XVII. Seu objetivo maior foi a construção de uma sociedade cristã em um universo que não reconhece fronteiras. O cristianismo deveria exercer sua vocação universal, lutando contra os hereges, convertendo o gentio. O projeto vieiriano é atravessado por um realismo político que privilegia os fins e age de acordo com princípios que, hoje, chamaríamos de racionais. A escravidão negra foi por ele "admitida" como indispensável à expansão da agricultura colonial. O que não o impedia de condená-la moralmente e lutar contra os "excessos" inevitáveis. O indígena seria escravizado em condições restritas e sob olhar vigilante dos inacianos e da legislação real que obtinham. É, contudo, o Vieira visionário, que crê na ressurreição de reis e em um Império Mundial sediado em Lisboa, que o levou à Inquisição. Destes e de outros Vieiras se ocupa o livro de Luiz Felipe Baêta Neves.