Este essa canção. Roberto ataca outra vez. Depois do Árvore Caduca, que já nasceu cheio de ótimas surpresas, vem agora com essa canção. A poesia dele não conhece meios termos, pontos de equilíbrio. O que é para ser celebrado é celebrado. O que é para ser xingado é xingado. O que é para ser cuspido é cuspido. Como quem se livra de demônios, Roberto solta os cachorros das idéias, dos sentimentos e da linguagem. Rasgando fotos do passado, ele diz: "o que não presta, lixo/meu slogan de limpeza". É uma poesia catártica. Mas não no sentido de desabafo, de escrita espontânea. Não. Há uma clara intenção construtiva de linguagem, de forma. É uma forma de catarse. Como é a catarse para a tragédia grega, descrita por Aristóteles. Quem se purifica é o espectador. Sofrendo as dores do herói, a gente se vê humano e se refaz. Roberto é esse herói do poema. Tem a coragem de expor suas dores, suas perdas, suas vitórias, suas vísceras em público. Sai limpo e purificado do poema. E nós também. E tudo isso num verso claro. Claro e forte. Muitas vezes essas duas qualidades são difíceis de andar juntas. Mas na poesia do Roberto se somam. A clareza escancara ainda mais a força do seu discurso poético. Nesse sentido, sua poesia não encontra muitos pares. Tem um pouco da coragem de um Augusto dos Anjos, do samba de Lupicínio Rodrigues. E como em ambos, tem uma alegria criativa, um prazer da descoberta, uma felicidade em dizer. São poemas de encher a boca e falar. E também de encher os olhos. Seja pela quebra do verso, pela seleção de palavras, pela imagem, pelo tom. Certamente vai renovar o ânimo poético de qualquer leitor essa Canção das coisas inanimadas.