Neste ensaio, o jesuíta e filósofo torna-se polemista para desalojar as complacências da nossa época em matéria de moral, que é caracterizada mais por uma espécie de seguidismo libertário do que por rigor intelectual. O autor convida-nos a reaprender a dizer "não" aos conformismos que fomentam uma insidiosa desordem incapaz de conduzir a sociedade para a sua felicidade. Será que o autor de Elogio da Consciência, por acaso, se tornou reaccionário? Não, apenas faz o seu trabalho, querendo retomar as questões pelas bases ou pelos fundamentos, sem se afastar da sua conhecida vinculação à liberdade de consciência, juiz último da culpabilidade. Mas que deve, também, reabrir o dossier mais urgente da reflexão moral contemporânea, aquele a propósito do qual, para espanto, se escreve tão pouco: o dossier do famoso "direito natural". Não se trata da natureza tal qual se dá a ver, mas de um conceito construído que postula a necessidade, senão de uma objectividade, pelo menos de uma objectivação de um horizonte onde existam "o bem e o mal". É verdade, que o uso - ou antes o mau uso - que o Magistério da Igreja católica faz, frequentemente, deste conceito não contribuiu pouco para o desservir, para o desacreditar: cabe a cada um assumir a sua parte de responsabilidades! Voltemos ao cristianismo. Tudo o que precede postula, para o teólogo, uma releitura da antropologia cristã. Nietzsche deverá continuar a ensinar-lhe a desviar-se de uma concepção na qual a religião surge como uma concorrência entre o homem e Deus, perdendo este à medida que ganha a sua criatura, ou o inverso. O Deus dos cristãos não é "inimigo dos homens e das suas possibilidades". Propõe uma Aliança e suscita uma liberdade chamada a desenvolver-se, simultaneamente lúcida sobre a grandiosidade do homem mas também sobre os compromissos sempre possíveis com o mal. As últimas páginas deste livro convidam a uma rigorosa meditação sobre o contributo de um cristianismo contemporâneo para com a antropologia e a moral, no grande debate perpétuo e plural que caracteriza as nossa sociedades ocidentais. O livro de Valadier é audacioso. Vivemos em países onde, sob a capa da democracia, se chega, muitas vezes, a estabelecer que a maioria decide o que é bem ou mal - como se a democracia se reduzisse a uma contagem aritmética. Com severidade, não sem pontos polémicos, mas também com o rigor de um grande intelectual, o autor abre dossiers essenciais, vitais, mesmo, para a ideia que o ser humano se faz ou se fará de si próprio, dos seus "valores", do seu destino. Não fiquemos apenas contentes por ler este livro.Trabalhemo-lo! PAUL VALADIER, jesuíta, professor de Filosofia no Centro Sèvres, em Paris, antigo director dos Études e actual director dos Arquivos de Filosofia, de Paris, exibe quase há trinta anos um pensamento vigoroso onde o cristianismo se desenha na escuta e no acolhimento da modernidade e da pós-modernidade. Uma audácia que o fez, inúmeras vezes, atravessar os textos de Nietzsche. Da sua autoria o Instituto Piaget já publicou: Inevitável Moral; Elogio da Consciência; Anarquia dos Valores e Um Cristianismo de Futuro