A vinda da família real para o Rio de Janeiro em 1808, episódio inédito na história da colonização moderna, continua a suscitar questionamento entre os historiadores que se debruçam sobre sua repercussão na política da América, então portuguesa. As transformações vividas na cidade inscrevem-se num processo mais amplo sentido tanto no Império lusitano como por todo o mundo atlântico, cuja sabida complexidade pode ser sintetizada pela expressão da crise do Antigo Regime, desdobrada no Novo Mundo na derrocada do sistema colonial. Tal fenômeno materializava-se em um sentimento de grande, provisoriedade no que diz respeito às alternativas políticas em curso, além de visíveis transformações no nível das sociabilidades, pois que a emergência de novos valores políticos em face da desagregação dos vinculados ao absolutismo tendia a configurar um labirinto no qual tanto o homem comum quanto os participantes diretos dos embates tinham muita dificuldade em guiar-se. Nesse torvelinho tal [...]