escrever como quem busca o sangue, a água em que nunca estive, a boca que guarda a descendência de meu nome, a cura para a infecção paterna. ter o dorso desabitado de nascença. ser um canal, um abcesso numa língua. estar líquida dentro da ferida. costurar no peito uma era geológica, saber de sua própria extinção, celebrar o incêndio. investigar modos de morar mesmo em exílio. exercer o mistério através da boca faminta de deus, saber que ele também é desnível, e sua linguagem, uma queda. ser irrigável. o poema é uma imagem que queima. o poema é um mar aberto. Raquel Gaio