A história transcorre nos dias de hoje, entre aquelas duas cidades. É plena de atualidade e verossimilhança, social e psicológica, a moldar o comportamento de boa parte dos personagens, no contexto de uma sociedade ferozmente competitiva e financista. Em contrapartida, atitudes e desejos de despojamento, espiritualidade e solidariedade se manifestam noutros personagens, os quais acabam por transformar "o estrategista vitorioso no mundo dos negócios": o frio e calculista Aníbal. Aqui, parece quase inevitável - guardadas as proporções estilísticas e as forças compositivas de cada um, inclusive ideológicas - a aproximação desse protagonista ao Paulo Honório de São Bernardo, romance de Graciliano Ramos. Ambos, Aníbal e Paulo, são seres brutos, ambiciosos, mas que, ao fim da narrativa, acabam por reencontrar sua perdida humanidade depois de experimentar episódios trágicos. Aí está outra grande e definitiva qualidade de UMA VIDA NÃO BASTA: o valor humanístico que transmite. A força e a fé na vida. A crença em que podemos ser melhores do que somos. E de que a arte, tal qual este romance, com sua promessa de felicidade centrada na beleza (como queria Stendhal), termina por humanizar o homem, moral e socialmente.