O subúrbio carioca retratado neste Os Bugres, de Rodrigo de Roure, com sua profusão sensorial de cores, cheiros e sabores, além de cenário e personagem, é também um símbolo poderoso a sintetizar tema e forma: tudo nesta narrativa paira suspenso em um entrelugar, evocando os bairros esquecidos nas franjas do que os cartões postais (e o poder público) consideram que seja a cidade. O olhar de cronista do autor nos coloca diante de um painel vibrante de tipos humanos que, para além de personagens exemplares (não são estereótipos nem arquétipos, muito menos modelos de conduta), encarnam na trivialidade de seu cotidiano embates silenciosos (ou silenciados?), mas não menos fundamentais. Figuras masculinas se apequenam diante do farfalhar de saias que preenche os vazios do texto, mas ao mesmo tempo mulheres fortes e desejantes não deixam de ter seu prazer interrompido e medido em função dos homens. A vida no subúrbio pulsa clandestina, conciliando de maneira singular liberdade e opressão.(...)