Todos queriam que Juliana crescesse. Comer para crescer. Dormir para crescer. E Juliana cresceu. Aos cinco anos era maior que todas as crianças. Aos doze era muito, muito alta. Era útil na cozinha. Sem levantar os pés, alcançava os pratos, potes e copos da mais alta prateleira. Nunca mais ouviu que era bonita, magra e alegre. Odiou ser alta. Andava encurvada para não chamar a atenção. Ouvia os cochichos: girafa, escada... Só lhe restava chorar e se perguntar por que era tão alta. Tão cheia de tristeza, pôs em prática o ditado: "quem canta seus males espanta". E gostou de sua voz, de seu jeito de cantar. Era tão novo e tão belo seu cantar que até os passarinhos a imitavam. Sentiu-se lisonjeada com tamanha homenagem. Cantou cada vez mais alto. Até que todos a ouviram e agora as pessoas só falam de sua voz bonita, de sua voz de anjo.