Seria possível o pai da psicanálise em algum momento ter sido a favor dos processos religiosos? Teria ele se posicionado de forma mais dialética frente à experiência religiosa? Haveria na obra de Freud algo que nos permitisse pensar dessa forma? Certamente sim. Nos últimos anos muito se tem escrito, publicado e divulgado sobre o pensamento freudiano frente à religião. É sabido que Freud foi, sem dúvida, um grande crítico dessa. Para ele a religião poderia ser comparada a neurose obsessiva, uma ilusão, uma simples projeção que o adulto faz do pai onipotente da primeira infância na figura do Deus soberano. Por muitos anos o texto desse judeu sem deus (como ele mesmo se denominava) foi tido como um dos maiores destruidores da experiência com o sagrado; chegando mesmo a ser proibido em determinados contextos religiosos. O que poucos sabem é que, dentro da complexidade que é a apropriação devida do texto freudiano, encontramos novas possibilidades de pensamento e de construção teórica acerca da religião. O próprio Freud vai, ao longo dos textos (desde os que versam especificamente sobre a religião até os mais gerais) deixando sua obra aberta para novas construções na busca da compreensão do que ele mesmo chamou de processos psicológicos da vida religiosa. As entrelinhas, muitas vezes, revelam mais que o conteúdo inteiro do texto; é nelas que estão uma grande e pertinente contribuição do pai da psicanálise para o estudo da temática religiosa que até então não se atribui a ele. É ainda nessas entrelinhas que Freud parece ser a favor da religião, ou mesmo um tanto mais brando na análise e compreensão dessa. Com o intuito de desmistificar o texto de Freud sobre o estudo da religiosidade é que escrevemos esse trabalho e acreditamos em sua importância para o conhecimento e a pesquisa psicanalítica acerca das vivências religiosas.