Após publicar vinte livros, Luís Giffoni, autor jamais autocomplacente, decidiu que Dom Frei Manoel da Cruz (figura nada popular) e sua época, o século 18, serviriam de material para seu próximo trabalho. Durante cinco anos, ele pesquisou em todas as fontes possíveis, foi aos locais onde seu personagem viveu e refez, inclusive, grande parte da longa viagem que o bispo enfrentou entre o Maranhão e Minas Gerais. A profunda imersão nesse universo gerou o ensaio "Dom Frei Manoel da Cruz" e o romance que você está prestes a ler. Seria bastante cômodo para qualquer escritor, tendo este farto material em mãos, produzir uma história linear, de fácil digestão, uma vez que a vida de Dom Manoel daria, por si só, um romance. Mas Luís Giffoni é um artista e, como tal, não se contenta com nada menor que renovados desafios à sua escrita. De tanto "conviver" com o religioso português e as décadas de 1690 a 1770, seus mistérios, sua linguagem, suas angústias, antigas certezas, dúvidas novas e os importantes fatos que a história estava a gestar, Giffoni decidiu que daria voz própria a esse controverso personagem. Dom Frei Manoel da Cruz, nascido em Portugal em 1690, foi o primeiro bispo de Mariana/MG, no período de 1748 a 1764, quando morreu. Chegou ao Brasil em 1739, ocupando a diocese de São Luís, na província do Maranhão. Oito anos depois, cruzou os sertões a pé, a cavalo e de barco, numa viagem que durou quinze meses, até chegar às Minas do Ouro. Este romance é uma instigante reflexão feita pelo prelado em vários momentos que se sobrepõem e dialogam entre si, nos quais se conhecem a história de sua vida, as riquezas, dificuldades e conflitos entre a igreja católica, os reis de Portugal e seus súditos nos anos que antecederam a Inconfidência Mineira. Como numa pintura cubista, o personagem é visto através de múltiplos planos, e as narrativas se misturam em tempos e focos distintos.