Florença, Roma e Pienza marcaram os primeiros passos para a consciência dos processos de concepção colectiva das formas urbanas. Os arquitectos do Renascimento da cultura clássica foram capazes de trabalhar o seu ofício articulando o plano artístico com as sínteses intelectuais que permitiam transformar as necessidades públicas numa nova ordem estética, à escala global das urbes saídas da Idade Média. A própria noção de cidade ideal se constituía em cima das reflexões do discurso renovador da inteligência desse tempo, tomando a arquitectura como matriz dos processos ordenadores dos espaços de cidadania, entendidos na tridimensionalidade natural do seu uso. Em Ferrara a experiência revestiu-se de contornos particulares. Situada em posição estratégica na vasta área agrícola do delta do rio Po, tornou-se na mais importante capital da região. Antes que o aluvião movesse o curso das águas para outras paragens, o optimismo reinou e acreditava-se que o progresso económico e social, acompanhando o afluxo constante de novas populações, determinaria o ininterrupto enriquecimento da cidade. Assim se compreende o enorme investimento em obras de infra-estruturas como o desvio do curso principal do rio, a abertura de canais de cintura do núcleo urbano ou a construção de nova muralha defensiva segundo as mais sofisticadas técnicas militares, reservando amplos espaços interiores para crescimento futuro. Visão larga de verdadeiros planeadores.