O abolicionismo, importante movimento social no Brasil do século XIX, foi muitas vezes visto pela historiografia como resultante da ação de homens de sentimentos humanitários, que teriam tido a glória de resgatar os pobres negros do cativeiro. Na contramão dessa memória, este livro evidencia que, em São Paulo, se o abolicionismo ganhou força e substância a partir da atuação de juízes e advogados como Luiz Gama e Antonio Bento, suas principais características se devem ao contato direto desses homens com as expectativas e ações dos próprios escravos. Ao buscar os significados sociais que eles atribuíam ao direito e à lei, este livro questiona as interpretações tradicionais que dividem o abolicionismo paulista em uma fase "legalista" e outra "radical". A análise de vasta documentação judiciária, da correspondência entre autoridades públicas e de jornais do período torna evidente que a escravaria, longe de estar isolada e acéfala nos eitos, dava, a seu modo, o tom e o argumento dos embates nos tribunais.