O devaneio do ISIS é alimentado por textos canônicos que alinham seus militantes muçulmanos à causa dissidente e ao sonho do renascimento do califado islâmico. Como em outras narrativas utópicas, esta também se refere de forma otimista a um lugar desconhecido, mas imaginado. A visão apocalíptica sobre o inevitável choque do Islã com o Ocidente liberal é uma das principais marcas do atual discurso salafista. Ele é difundido nas mesquitas, nas academias universitárias e religiosas, na imprensa e nos programas de tevê do mundo árabe e islâmico. Renasce, assim, em outro contexto, o conceito Totalstaat, desenvolvido na década de 1920 por Carl Schmitt. Segundo essa nova versão islâmica da utopia totalitária, a lei islâmica (shaaria) deverá controlar todos os aspectos da vida privada e pública. Tal fato levou o novelista e Prêmio Nobel Vidiadhar Surajprasad Naipaul a classificar o Estado Islâmico de IV Reich. Ele chama a atenção para o barbarismo e o fanatismo do ISIS, sua dedicação ao genocídio e sua crença na superioridade racial.