Os projetos de Estado para os povos indígenas se estendem pelos séculos de colonização portuguesa e brasileira nessa porção de terra que hoje denominamos Brasil. São exemplos no domínio da oficialidade a catequese missionária, sobretudo jesuítica; a proteção aos "miseráveis" sob o Diretório pombalino; o regulamento das missões de catequese e civilização do Império do Brasil; a proteção fraternal rondoniana sob a República Federativa do Brasil; e o regime tutelar, construído ao longo do século XX e plenamente regulamentado pelo Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973). Nesse longo e aparentemente interminável processo, os recursos, o trabalho e o legado dos povos indígenas têm sido objeto de propostas e especulação por parte dos invasores da terra, convertidos em ocupantes e, muitas vezes, até mesmo em "amigos dos índios". Contudo, por mais generosos que tenham sido, esses planejamentos oficiais, a um só tempo monstros, utopias e quimeras, jamais levaram em conta os projetos de futuro formulados pelos povos indígenas. Os ensaios sobre a idéia de "etnodesenvolvimento" aqui reunidos, ao contrário, apostam que somente com a participação dos índios se pode rumar em direção à transformação das bases dessa política. É sempre bom, porém, lembrar que tal caminho, transformado em políticas públicas, pode, caso seus principais interessados no sejam seus agentes privilegiados, recair no desvario das bem-intencionadas ações de exploração e domínio.