Estudioso de longa data do tema, Kamel faz um interessante cruzamento dos ensinamentos das três principais religiões monoteístas do planeta - o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo - para demonstrar que a percepção geral da fé muçulmana como fonte de violência e terror é, para dizer o mínimo, errônea. Brasileiro, filho de um sírio muçulmano e uma baiana católica (filha, ela própria, de um muçulmano e de uma católica), e casado com uma judia, ele está inusitadamente bem situado para fazer uma avaliação sem os preconceitos nem as paixões que comumente turvam a visão de muitos que se debruçam sobre temas religiosos. Didática e jornalisticamente, Kamel leva o leitor a conhecer os princípios do islamismo, situando-o num contexto histórico-cultural preciso, e fazendo uma leitura comparativa não de suas diferenças com relação às outras fés monoteístas, mas de suas semelhanças: "Esse caldeirão cultural do qual sou fruto me ajudou a ver onde as religiões se tocam e onde se afastam", diz. Escrito de forma a prender a atenção, até mesmo do leitor não particularmente interessado em temas políticos ou religiosos, Sobre o Islã é uma lição de como fazer uma boa análise de um assunto que ocupa parte significativa do noticiário atual. Kamel certamente conseguirá atingir os objetivos expressos logo no início da obra junto àqueles que dedicarem algumas horas à leitura de seu livro: "Estarei satisfeito se conseguir (...) ressaltar que as três religiões monoteístas têm mais pontos em comum do que antes o leitor imaginava", e "dar ao leitor ainda mais certeza de que nenhuma delas é base para o horror do terrorismo". "Como podem envolver Deus nisso? Que processo leva essas pessoas a criar, a partir de uma religião que se quer pacífica, um dos movimentos políticos mais violentos que o mundo já viu, uma das maiores ameaças ao nosso estilo de vida, às liberdades essenciais do ser humano? Quem são essas pessoas? O que elas pensam? O que de fato querem? Tentar responder a essas perguntas é o objetivo deste livro. Para alcançá-lo, eu percebi que, antes, seria necessário explicar ao leitor o que é o Islã para que, depois, ele pudesse entender de que forma o terror deturpa a sua mensagem. Quando comecei a escrever o livro, dei-me conta de que eu devia evitar o caminho de mostrar mais as diferenças, de realçar o que o Islã tem de estrangeiro, de exótico, de estranho, caminho que a maior parte dos livros sobre o assunto costuma trilhar. Eu apostei em outra estratégia: dar ênfase ao que é familiar, ao que é comum, ao que é semelhante." Ali Kamel