A obra de Machado de Assis em seu centenário de morte está mais viva do que nunca. Artigos e livros dentro e fora do Brasil mais e mais tratam de sua literatura e de seu papel na cultura brasileira e latino-americana. Leitores redescobrem ou descobrem o prazer de ler um autor que, em geral, as escolas obrigam a conhecer, com um resultado menos feliz do que o merecido. Para entender o porquê de tudo isso, é preciso situar Machado de Assis em seu tempo e espaço e, então, tentar compreender como seus livros têm sido tão capazes de transcender seu tempo e espaço. Sua vida costuma ser vista como a vida de um funcionário público, uma vida burocrática, de um homem que jamais saiu do estado do Rio de Janeiro, que foi casado por 35 anos com a mesma mulher, que pouco saía de casa e que não se metia nos assuntos terrenos. A imagem do 'Bruxo do Cosme Velho', na frase do poeta Carlos Drummond de Andrade, está cristalizada no imaginário nacional; é como se Machado tivesse vivido sempre isolado numa torre de marfim, devotado à sua obra. Mas isso não corresponde inteiramente à verdade. Sua vida e sua obra dizem muito sobre o tempo que testemunhou, e não apenas como observador distante.