Antonio Tabucchi, um italiano catalogado como cult no mundo literário, mostra neste livro por que é também considerado um mestre do entrelaçamento de histórias curtas — apenas mais uma das qualidades de sua escrita refinada. Só ele poderia dividir as responsabilidades de um conto assim: “metade se deve a uma leitura de Platão e a outra metade ao balanço de um ônibus lento que ia de Horta a Almoxarife.” Conhecedor da língua e da cultura brasileira, Tabucchi diz que “Uma baleia vê os homens” foi inspirado, sem dissimulação, numa poesia de Carlos Drummond de Andrade. E explica: “Ele, antes e melhor do que eu, soube ver os homens através dos olhos dolorosos de um moroso animal.” “Mulher de Porto Pim” fala de um triste equívoco de amor. Um homem conhece uma mulher, se apaixona e abre uma porta para a escuridão. Em determinado momento, pergunta: “Você sabe o que é a traição? A traição, a verdadeira, é quando você sente vergonha e quer ser um outro.” Mas ao perder a inocência e perceber a vulgaridade de um mundo sem espaço para um grande amor, em vez de preferir ser outra pessoa, ele pega seu arpão e mata a bela amada.